Entrevista ao Jornal "O Mirante" - Ganadero José Dias



- Quando é que os ganadeiros nacionais vão conseguir competir com os espanhóis que têm vindo a aumentar a presença em corridas de toiros portuguesas?
- Não competimos com os espanhóis por que não temos qualquer hipótese. Os toiros espanhóis vêm para Portugal a preços baixíssimos. Estão legais, mas foram comprados para abate. A guia traz uma validade de oito dias e durante este período são utilizados nas corridas. Lá vendem um toiro por 300 euros para abate e depois ainda cobram mais uns 750 euros para serem lidados aqui. No mínimo, um bom toiro não custa menos de 5000 euros. Ninguém se mexe para acabar com esta situação. E se começarmos a pressionar, depois os espanhóis não compram toiros portugueses.

- No ano passado a cavaleira Ana Batista queixou-se que os toiros espanhóis são difíceis de lidar.
- Os toiros que vêm de Espanha já têm cinco ou seis anos e não podem ser lá lidados porque já ultrapassaram a idade ou então são toiros com defeitos, como ainda vi recentemente uns com as patas e as unhas grandes. Com estas características os animais são muito pesados e por isso dificultam o toureio. Nesse sentido concordo com a Ana Batista.

- São os espanhóis que estão a estragar a Festa Brava em Portugal?
- Os principais responsáveis são os nossos governantes e a Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide. Há muitos ganadeiros que pertencem à associação e enviam toiros para a Espanha e por isso não se mexem porque não lhes convém. Os próprios directores de corrida não deveriam autorizar que um toiro que vem para ser abatido seja lidado.

- E os empresários?
- Tratam da vida deles. Porque quanto mais barato comprarem, mais ganham.

- Estamos sempre a ouvir que os toiros não são um negócio rentável. Mas continuam a existir muitas ganadarias.
- Os ganadeiros são na sua grande maioria senhores muito ricos, com muitas propriedades, que se dedicam ao negócio mais por paixão. Ninguém pode viver directamente de uma ganadaria.

- Também é um ganadeiro rico?- Não tenho prejuízo, mas também não tenho lucro. Se fosse a contabilizar as horas que faço à noite com o meu filho não haveria dinheiro que pagasse. Faço isto mais por paixão e carolice.

* Entrevista completa na edição semanal de "O Mirante".

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